
O Setembro Amarelo é uma campanha de sensibilização sobre a importância da prevenção ao suicídio. A cor “amarela” é usada em referência direta ao Dia Mundial de Prevenção do Suicídio (10 de setembro) e visa chamar a atenção e mobilizar a sociedade como um todo sobre o tema, que ainda é considerado um tabu, algo que as pessoas tendem a esconder e não falar.
“Essa é uma demanda extremamente sensível. É muito complicado, doloroso. Para se ter uma noção, hoje a morte por suicídio é maior do que muitas doenças… E durante algum tempo, as pessoas pensavam que era melhor não falar sobre isso. Há muitos casos, mas eles não são divulgados na mídia para que as pessoas não tomem como exemplo. Mas sobre essa situação, sobre dor, sofrimento, sobre o conhecimento, a gente precisa falar”, explica a psicóloga Elisângela Dolzane, convidada pelo Núcleo de Educação Permanente em Saúde e Humanização (NEPSHU) da Fuham para um bate papo com pacientes e seus familiares que aguardavam atendimento na sala de espera da Fundação, na manhã desta sexta-feira (13/09).
Para a psicóloga falar sobre quando a saúde emocional não vai bem é um tema delicado, porém importante, já que, infelizmente, faz parte do dia a dia de muitas famílias. Para a especialista, escutar o outro, estar atento ao outro é um exercício a ser aprimorado a cada dia, evitando julgamentos e preconceitos.
“Muitas pessoas pensam ‘ah, se quisesse mesmo já teria feito, quem quer morrer não avisa’, mas avisa sim, a pessoa dá sinais, verbaliza, porque ela não quer tirar a sua vida, ela quer acabar com uma dor. Então são falas, comportamentos que vão mostrando que aquela pessoa não está bem, só que a gente não percebeu”, comenta Elisângela.
Acolhimento e ajuda profissional
Estar atento a sinais, ser aberto à escuta, oferecer acolhimento e buscar ajuda profissional são alguns passos importantes para auxiliar a quem está em um sofrimento mais profundo.
“A gente tem que prestar atenção nos sinais. Não é só a pessoa falar, ela começa a se isolar, perder a vontade de fazer as coisas, só vive trancada; há mudança de comportamento, ela pode começar um processo de despedida, começa a visitar os amigos, começa a passar para a família ‘olha, esse aqui é o número da minha conta de banco, olha, eu tenho tal coisa’, então, a gente tem que ficar atento, tentar conversar, acolher”, reflete a psicóloga.
De acordo com a profissional, do pensamento à execução, há fases que são percorridas e são nesses momentos que a ajuda especializada pode fazer toda a diferença.
“A vigilância é muito importante. Quando uma pessoa está com esse pensamento de tirar a própria vida, a gente chama ideação. Tem três fases: a ideação, que são os pensamentos; depois tem a fase do planejamento, que já é quando a pessoa começa a planejar de que forma ela vai fazer e tem uma terceira fase, que é a execução. E para a execução é muito rápido, porque ela precisa do que a gente chama de um impulso. É aí que é preciso intervir, estudos mostram que 90% dos casos de suicídio poderiam ser evitados se no momento que a pessoa tem esse impulso, se ela for acolhida, se alguém conversar com ela por 15, 20 minutos, aquilo vai se acalmar e ela não vai cometer e aí eu lembro de iniciativas como o CVV, Centro de Valorização da Vida, pelo número 188, nele há pessoas preparadas para ouvir, escutar e ajudar, então, se for preciso, peça ajuda”, finaliza Elisângela.
Além da fala da psicóloga, o momento foi de reflexão e participação ativa dos pacientes, inclusive com depoimentos pessoais emocionados. As dinâmicas propostas deram um tom ameno e de acolhimento aos participantes que, embora tenham sido abordados com um tema difícil, puderam refletir e deixando um sentimento de esperança a todos.