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A dermatologista Silmara Navarro Pennini, do quadro profissional da Fundação Hospitalar Alfredo da Matta (FUHAM), obteve, na manhã da última sexta-feira (15), o título de doutora pelo Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas (PPGMT) em convênio com a Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado. As duas fundações são vinculadas à Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM).

A médica apresentou o trabalho de pesquisa intitulado “Tratamento da Leishmaniose Cutânea em área com predomínio de Leishmania (Viannia) guyanensis com esquema combinado de pentamidina e tamoxifeno. Ensaio clínico randomizado, de não-inferioridade”, em evento aberto, realizado no auditório da FUHAM.

A banca foi presidida pelo médico Sinésio Talhari (orientador da pesquisa) e formada pelos professores doutores Ana Cyra dos Santos Lucas (UFAM), Mônica Nunes de Souza Santos (UEA/FUHAM), Luiz Carlos de Lima Ferreira (PPGMT) e Rossilene Conceição da Silva Cruz (FUHAM). Os coorientadores foram os professores doutores Jorge Augusto de Oliveira Guerra e Anette Chrusciak Talhari.

Após a defesa da tese, os membros da banca fizeram as considerações, dando sugestões de ajustes para o aperfeiçoamento do texto final que ficará disponibilizado à sociedade no repositório acadêmico da UEA. No final, a doutoranda confirmou o recebimento do título de doutora.

Também estavam presentes na sessão, a diretoria da FUHAM, na pessoa do diretor-presidente, Carlos Chirano, do diretor-técnico, Renato Cândido, da diretora de Ensino e Pesquisa, Graça Barbosa e da diretora administrativa-financeira, Mônica Sales, além de outros servidores da FUHAM e colegas de formação da doutoranda.

Foi a primeira vez em que uma tese de doutorado foi defendida no auditório da FUHAM. A pesquisa teve repercussão prática no laboratório de Biologia Molecular da fundação, tendo sido com ela que os profissionais implantaram a avaliação de espécies de Leishmania na instituição.

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Entrevista

Leia, abaixo, a entrevista que a médica Silmara Pennini, concedeu à Assessoria de Comunicação da FUHAM, onde ela dá detalhes da pesquisa que lhe rendeu o título de Doutora. A entrevista foi dividida em tópicos:

Como é o tratamento da leishmaniose atualmente, no Amazonas

Na maioria dos casos atendidos nas unidades de saúde, o tratamento para a leishmaniose é feito com um medicamento chamado glucantime, uma injeção que deve ser tomada todos os dias, por 20 dias. Existe um outro tratamento, feito nas unidades de referência, ou seja, Hospital Tropical e Fundação Alfredo da Mata, que é a pentamidina, também em injeção, mas aplicada uma vez por semana, durante 3 semanas.

Esses dois tratamentos têm o inconveniente de serem injetáveis, pois, as pessoas mais acometidas pela doença são aquelas que moram nas estradas, nos ramais, nos sítios e que têm dificuldades de se deslocarem até as unidades de saúde para tomar a injeção.

Por isso tudo, nós temos sentido necessidade de um novo tratamento, embora ano passado o Ministério da Saúde tenha disponibilizado a miltefosina que é um comprimido muito bom para o tratamento da leishmaniose e que também foi avaliado no Amazonas em estudo que teve, como pesquisadora principal, a doutora Annette Talhari.

A busca por uma alternativa de tratamento

Nós vimos a necessidade de um novo tratamento para a leishmaniose. Nós observamos, na literatura, que tinha um comprimido que é usado para o câncer de mama, o tamoxifeno, que já tinha sido observado, em laboratório, que tinha uma ação contra a Leishmania e que também já tinha sido avaliado em pacientes com leishmaniose, na Bahia, com um tipo de Leishmania diferente da nossa. Então, nós fizemos esse estudo aqui, utilizando um esquema diferente de tratamento. O esquema de tratamento que usamos foi de uma única injeção de pentamidina, no dia do diagnóstico e os comprimidos de tamoxifeno para serem tomados durante 20 dias, em casa

Eficácia do tratamento estudado

Nós conseguimos 72 % de eficácia, de sucesso de tratamento, o que é um bom percentual no tratamento da leishmaniose no Amazonas. Esse resultado pode ser validado com novos estudos e, acreditamos que esse percentual ainda possa ser maior com as novas perspectivas de estudos que esta pesquisa abre.

Dificuldade

Nós tivemos algumas dificuldades ao longo do tempo que ocorreu essa pesquisa e, por isso, ela demorou um pouco mais para ser concluída. A primeira dificuldade foi estudar uma doença considerada negligenciada.  Lembrando que, na classificação da Organização Mundial da Saúde para Doença Tropical Negligenciada, um dos fatores é o baixo investimento em pesquisa e nós sentimos isso assim na prática.

Outra dificuldade foi porque o início da pesquisa coincidiu com o início da pandemia Covid-19. Nós pensávamos que a pandemia fosse passar logo, mas ela continuou e foi aquele horror. Então, isso atrapalhou porque as pessoas, muitas vezes, com doenças como leishmanioses, uma ferida na pele, tinham que ficar em casa, na expectativa de que a lesão melhorasse por causa dos riscos da pandemia, claro que muito maiores. Por outro lado, foi difícil manter os pacientes na pesquisa, porque o estudo não é apenas dar o medicamento. Não, nós fazemos consultas depois, até 6 meses após o tratamento e temos que repetir os exames para ver se está tudo bem. Esses retornos também foram dificultados pela pandemia. Imagina que, mesmo fora da pandemia, um estudo desse tipo é difícil de ser conduzido por causa dessa adesão do paciente ao protocolo da pesquisa.

Criatividade e tecnologia

Nós tivemos que usar criatividade para ver como superar essa dificuldade, em particular. Então, nós usamos a telemedicina, que é o uso de tecnologia digital para fazer consultas de forma virtual. Lembramos que a maioria dos pacientes possuem WhatsApp e internet disponível no interior e passamos a utilizar essa ferramenta com os pacientes que não conseguiam estar presencialmente nas consultas. Pedíamos que enviassem fotos para avaliarmos como estava o andamento da cicatrização das lesões e mensagens sobre como estavam sentindo. e tudo mais. E isso ajudou muito na conclusão da pesquisa.

Resultados da pesquisa

Foi observado um bom percentual de cura (72%) com o esquema terapêutico avaliado, que foi apenas uma injeção de pentamidina no momento do diagnóstico, seguida por comprimidos de tamoxifeno, tomados em casa, durante 20 dias. Portanto, os resultados dessa pesquisa foram satisfatórios e abrem perspectivas para novas investigações que, talvez, possam aumentar mais a eficácia do tratamento. Nós vemos que ele pode, talvez, ser pesquisado isoladamente, uma dose maior ou por um tempo maior.

Currículo

Além do título de Doutora pelo  Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas em convênio com a Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado, a médica Silmara Pennini Navarro, que nasceu em São Paulo (“mas me considero daqui do Amazonas”) tem Mestrado em Saúde Pública / Epidemiologia pela University of Wales College of Medicine (EUA), Residência Médica em Dermatologia na Fundação Hospitalar Alfredo da Matta, título de Especialista pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, especialização em Epidemiologia pela Fundação Oswaldo Cruz, graduação em Medicina pela Universidade Federal do Amazonas. Atua como Dermatologista e preceptora da Residência Médica da FUHAM (Governo do Estado do Amazonas). Tem experiência principalmente em Dermatologia Tropical (Hanseníase, Leishmaniose) e doenças da mucosa oral.

A médica tem, agora, dois meses para inserir o texto definitivo do repositório de produção acadêmica da UEA. Teses e dissertações do PPGMT podem ser acessadas no endereço https://ppgmt.uea.edu.br .