Eliminar a hanseníase como problema de saúde pública nacional é hoje um dos desafios apontados como prioridade pela Organização Pan-America da Saúde (OPAS). Quem afirma é Santiago Nicholls, assessor regional do Programa de Hanseníase da OPAS, em palestra que abriu, na última segunda-feira (12), no auditório da Fundação Alfredo da Matta (Fuam), o Curso de hanseníase teórico-prático para dermatologistas dos Centros Nacionais de Referências – OPAS/OMS.
O curso, que reúne, de 12 a 16 de maio, especialistas em dermatologia de 10 países das Américas e Caribe, acontece pela segunda vez em Manaus, promovido pela Fuam, Centro Colaborador da Organização Mundial da Saúde (OMS) para controle, treinamento e pesquisa em hanseníase para a região das Américas e Caribe.
Em sua explanação, Nicholls falou sobre os desafios de manter as conquistas alcançadas e avançar na eliminação da hanseníase na região das Américas, destacando que a eliminação da doença – quando se identifica menos de um caso para cada grupo de 10 mil habitantes – é uma meta desafiadora para o Brasil, pois é aqui que ainda se concentra a maior prevalência (proporção de casos numa determinada população, em um determinado período) da doença nas Américas: são 1,50 casos para cada grupo de 10 mil habitantes (dados de 2012).
Argentina, com uma prevalência de 0,17 casos de hanseníase para cada grupo de 10 mil habitantes, Colômbia (0,14 casos para 10 mil habitantes), Venezuela (0,41 casos para grupos de 10 mil habitantes) e Paraguai (0,76/10 mil habitantes) estão entre os 18 países da região que eliminaram a doença como problema de saúde pública, embora ainda haja registro de casos novos nestas localidades.
Outros números da hanseníase nas Américas
Durante o período de 2006 a 2012 houve uma diminuição progressiva de casos novos de hanseníase nas Américas: de 47.612 casos novos, em 2006, o número caiu para 36.178 casos novos em 2012, uma redução de 24%. A prevalência, por sua vez, reduziu 45%, já que caiu de 0,72 casos por cada grupo de 10 mil habitantes, em 2006, para 0,39, em 2012.
Mas apesar dos números apontarem redução e alguns países das Américas já considerarem a doença como eliminada, Nicholls faz um alerta: “É um erro pensar que ao eliminar a hanseníase como problema de saúde pública, pode-se encerrar o trabalho de controle e vigilância da doença, ao contrário, deve-se mantê-los”. De acordo com o especialista, nas Américas foram detectados, em 2012, casos novos de hanseníase em 24 dos 35 países-membros, dado que reforça a importância de se manter a vigilância.
A maior carga da doença ainda ocorre no Brasil, onde se identificaram 33.303 casos novos; dado que, embora represente um desafio, significa também que o país tem levado a sério a busca ativa de casos novos, com a intensificação de seus programas de combate à doença.
Além da busca ativa de casos e pronto tratamento aos casos identificados, Nicholls acredita que fortalecer os serviços de atenção primária em saúde e os centros de referência especializados para o diagnóstico, tratamento, prevenção de incapacidades e reabilitação; implementar medidas específicas para luta contra o estigma e discriminação dos pacientes e seus familiares; além de aplicar as lições aprendidas no desenvolvimento de planos integrados para o controle ou eliminação da doença são outros grandes desafios que a OPAS, em conjunto com os Centros de Referência em Hanseníase, devem tomar como prioridade para que nos próximos anos todos os países-membros possam eliminar a hanseníase.
