A Fundação Hospitalar Alfredo da Matta (Fuham) recebeu na manhã de quarta-feira (29/01) a professora e pesquisadora Dra Annemieke Geluk, da Universidade de Leiden, na Holanda.
“A Dra Annemieke teve a iniciativa de me procurar, por saber que sou pesquisador visitante aqui na Fuham e manifestou o desejo de estar aqui, isso é importante [dizer], porque mostra a visibilidade que essa instituição [Fuham] tem”, comentou o professor visitante da Fuham, Dr Marcelo Mira, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR), na abertura da palestra.
Com uma larga experiência em imunodiagnóstico de doenças infecciosas e micobacterioses, o que inclui a hanseníase e a tuberculose, o grupo de investigação coordenado pela pesquisadora, atua no Centro Médico Universitário de Leiden, e é referência para o diagnóstico sorológico de rotina da hanseníase na Holanda e toda Europa.
E foi com o intuito de compartilhar as novidades que a pesquisadora apresentou um teste para sorologia em hanseníase que promete ser um grande diferencial no diagnóstico da doença.
Teste vai além de indicar a positividade ou não da hanseníase
A Fuham já utiliza um tipo de teste rápido para hanseníase, mas segundo Dra Annemieke, o grande diferencial do teste desenvolvido em suas pesquisas, é que ele não só diz se o exame é positivo ou negativo para a doença, mas também mede a quantidade de anticorpos presentes no organismo.
“São mais de 20 anos que eles vêm desenvolvendo o que hoje é um teste chamado de multimarcadores, que não usa apenas uma pesquisa de um marcador, mas pelo menos quatro, e esse teste tem o potencial de capturar a doença ao longo de todo o seu espectro, do pauci ao multibacilar; é o sonho de todo mundo, ter um teste como esse e agora estão sendo validados ao redor do mundo”, explica Dr Marcelo Mira.
Paucibacilar e multibacilar, citados pelo professor referem-se a duas das classificações da hanseníase, sendo o tipo paucibacilar com poucos bacilos e multibacilar, com muitos bacilos.
Segundo a Dra Annemieke, além de medir quantitativamente os anticorpos, o teste pode auxiliar de diferentes formas.
“Existe uma diferença entre exposição [ao bacilo], colonização e infecção; é importante entender isso para desenvolver marcadores que possam atuar de fato nessas perguntas. E todos esses usos são possíveis; diagnóstico precoce, classificação de multibacilar, paucibacilar, ou neural pura, detecção de infecção propriamente dita, mesmo subclínica, monitorar tratamento, dentre outros”, explica.
As vantagens do novo teste também podem ser evidenciadas ao compará-lo com tecnologias já existentes. “Os testes anteriores a este são o Elisa, que é quantitativo, independe de quem está fazendo o teste, mas é invasivo, pois é preciso sangue venoso, além de depender de um laboratório; o ML-flow [utilizado na Fuham] pode ser feito em qualquer local, até no consultório, é menos invasivo, pois só usa uma gota de sangue da ponta do dedo, mas ele é qualitativo, só dá positivo ou negativo, depende de um operador e o resultado some com o tempo. Já o teste novo é quantitativo, da mesma forma que o Elisa, mas ele pode ser feito no consultório, pois também é menos invasivo, usa a mesma gotinha de sangue, não depende do operador, porque é a maquininha que faz a leitura e o resultado é permanente, fica guardado num arquivo; então são várias vantagens do que já existe”, conclui a Dra Annemieke.
Para o diretor presidente da Fuham, ficam as perspectivas de que esses testes possam em breve ser utilizados.
“Isso nos traz novas possibilidades; esse contato inicial feito através do nosso pesquisador visitante nacional, nos dá a expectativa de podermos implementar e ampliar a nossa capacidade de diagnóstico mais precoce de hanseníase e poder planejar, analisar melhor as fases de evolução [da doença], assim é possível acompanhar melhor, por exemplo uma pessoa que não tenha a doença hoje, mas ele é portador do bacilo. Com essa mensuração dada pelo teste, a gente vai ter como acompanhar o paciente melhor, mais próximo, porque se esse paciente tem maior chance de adoecimento; a gente pode fazer intervenções mais precoces, fazer tratamentos mais resolutivos, curativos, sem sequelas”, conclui.
